Tatuí Cidade Ternura

-Que cidade é esta que chamamos carinhosamente de ternura? A ressonância real da cidade de Tatuí através da viva voz de seu povo.Um espaço de influências e formação,um centro de referências e valores.Um arquivo disponível à pesquisa e estudo

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Correspondência entre a socióloga tatuiana Sônia Rampim e Cristina Siqueira

Cristina Siqueira

Que bom que você existe. Que bom que faz o registro, a cartografia afetiva dos lugares cotidianos da nossa Tatuí. Que bom que traz a memória coletiva da cidade, que faz com que aflore com todos os seus cheiros, sabores e saberes...
Emocionei-me muito. Acredito que muita gente também... Em cada palavra, em cada afirmação sua, pode ter a certeza, milhares de pessoas, que estão aí ou não, encontraram sua identidade, seu verdadeiro ser, forjado e alimentado no viver cotidiano da nossa cidade.
Que delícia encontrar referência da minha tia Tomires e do tio Bodinho, brincalhão em essência, que me parava no caminho à piscina do XI de agosto e me dizia que o clube estaria fechado, pois era aniversário da água. Tia Tomires com seus deliciosos e inigualáveis fios de ovos que eu e meus primos adorávamos e não hesitávamos um minuto quando nossos pais diziam que iriam para uma visita à casa dela. Mesmo sabendo que, na sala de visitas, as conversas seriam de adultos e, para nós crianças, intermináveis, o sacrifício de esperar tia Tomires dizer “querem um docinho?” valia a pena.
Você também falou da Tipografia Unidos. Cresci dando uma passadinha por lá depois da escola. Sempre meu pai, o Zeca Rampim, presenteava a mim e a quem estivesse comigo com bloquinhos feitos das sobras do papel. Todos na escola queriam esses bloquinhos. Afinal, a oferta deles não era tão grande como hoje.
Lembro-me do barulho das máquinas, do cheiro de papel e tinta, dos modelos de convites de casamento onde sempre imaginava meu nome no lugar da noiva. E as fotos de lembrança do meu primeiro, segundo terceiro... até o décimo aniversário! Tenho todas até hoje...
Obrigada, Cristina, por me proporcionar esse mergulho na minha história, na minha identidade, em meio a tantos compromissos de trabalho... Obrigada por me fazer parar, refletir e escrever essas poucas linhas. Parabéns pelo registro desse patrimônio cultural imaterial que é a vida pulsante de Tatuí..
Parabéns, Tatuí...

Sonia Rampim Florêncio


Oi, Sônia

Profundamente sensibilizada com o seu olhar sobre o meu trabalho.Feliz com a sua participação nesta página “Prisma”, com a sua delicadeza expressa em palavras.
A cidade que nossa memória guarda é o que nos une em patrimônio e afeto.
Lembro-me do cheiro de tinta da Tipografia Unidos e do vai e vem operário dos senhores que compunham letrinhas.
Do Sêo Bodinho, eu tenho uma história que ouvia minha mãe contar com muita graça. Eu devia ter uns três anos e ficava sentadinha na soleira do portão vendo o movimento da rua e conversando com os passantes. Nisso, apareceu Sêo Bodinho, e eu, de pronto, lhe disse: “Sêo Bodinho, não vá lá na praça, que a carrocinha está pegando cachorros”. Ao que ele respondeu, com o humor que lhe era próprio: “Mas bode eles não pegam, não! Fica sossegada, Cristina.” E todas as vezes que nos encontrávamos nas ruas, Sêo Bodinho dizia, “mas bode eles não pegam não!”
A crônica “Tatuí Ternura” foi base para o despertar de sentimentos adormecidos. As manifestações de apreço se materializaram e me surpreenderam. Recebi do Tony Guedes, fotógrafo, várias fotos dessa época, do arquivo restaurado de Erasmo Peixoto.
Publico hoje as telefonistas do tempo em que os telefones tinham dois números.
Escrevi um poema que diz muito do espírito dessa época e confesso a você que gostaria que fosse uma das páginas do “Livro de Rua-Tatuí”, que pretendo fazer novamente.


Cristina Siqueira

Nenhum comentário: