Tatuí Cidade Ternura

-Que cidade é esta que chamamos carinhosamente de ternura? A ressonância real da cidade de Tatuí através da viva voz de seu povo.Um espaço de influências e formação,um centro de referências e valores.Um arquivo disponível à pesquisa e estudo

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ser Tatuiano-Henrique Autran Dourado

Ser tatuiano é amar música, teatro e luteria, é ser cidadão da Capital da Música. É tocar trompete debaixo da janela do diretor, é carregar a tuba na bicicleta, contramão da São Bento. É dizer bom-dia até para poste, abrir a porta para as senhoras e idosos, é enrolar o “r” com orgulho, é rimar arraiá com casá, conversar com desconhecido, é cornetar. Ser tatuiano é frequentar o Conservatório, dizer de boca cheia que é o maior da América Latina, e que seu fio, seu véio e sua patroa lá estudaram. É saber diferenciar uma viola de arame de uma viola sinfônica. Enfim, é ter música no sangue, poderoso antígeno contra vírus de todos os tipos, dos espanhóis aos do mau humor.

Ser tatuiano é vir de mala e cuia de São Paulo, Minas, Cuiabá, Peru, Paraguai, Itapetininga e adjacências, é sujar a botina de elástico de barro vermeio, é pitar cigarro de páia, uns bons minutos para bem prepará-lo. É gostar da pinga dos Ramos, do pão-de-queijo do Café Canção, do relógio da São Martinho, do pesqueiro do Doc, do Abud do Colina, do bar da Lena, do dog do Gordo, do Paulinho, do Caipirinha e do Caipirão do Arnaldo, do enorme shopping center livre da XI, é ficar vendo a estátua do Del Fiol “tocar” na praça da Matriz, é trombar com vereador no supermercado, com o Guarda Civil na banca de jornais, com o delegado no concerto.

E a tatuiana? Ser tatuiana é usar salto alto, calça preta e apear da Honda Bizz, tirar o capacete cor-de-rosa desarrumando os cabelos, é ser educada, é ser dona de casa, professora do “Barão”, do Anglo ou do Objetivo, é ser aluna da Etec ou da Fatec, é chorar de alegria, é sorrir de nostalgia, como dizia Noel, é usar calça jeans com brocado de prata nos bolsos de trás, é pranchar o cabelo ou fazer escova sempre que possível, é fazer social no Conservatório, é dançar bolero ao som da Big-band no Coreto, é aplaudir o Jazz Combo, o Coro, os Grupos de Choro e de Percussão e achar tudo fashion. Ser tatuiana é a coisa mais linda, mais cheia de graça, menina que vem e que passa, mais que um poema num doce balanço a caminho do lar. Ser Maria sem eira nem beira, Maria somente, Maria semente de samba e de dor, é ser Maria José ou Cristina Siqueira.

Ser tatuiano é madrugar no banco da praça da Matriz e contar do sordado marvado que mandô pórva no bandido, é ler “assombrações caipiras” e acreditar nelas, é ser teen e ir no Uainá, no Clube XI, jogar no RealMatismo, é fazer festa no República, comer pastel no Tambelli, dividir por quatro uma parmeggiana no Doca’s, é fazer rabada, leitão à pururuca ou assar linguiça na calçada, é prosear com o cumpadi na soleira da porta, é contar do peixão que (não) fisgou no Pantanal, e, óbvio, evidente, encher a boca para falar do sucesso da Lyra em Serra Negra ou em Bayreuth, na Alemanha.

Enfim, ser tatuiano é só ver telejornal da região na TV TEM ou no SBT, é saber, como dizia o Gil, que “a bomba explode lá fora, aqui o que vou temer...”, é gostar da música de raiz, de seresta e da Sinfônica – que são duas, banda e orquestra! -, é ter orgulho da água pura da Sabesp, do desemprego que caiu. É saber (saravá, Vinicius) que os namorados caminham de mãos entrelaçadas, e que os maridos funcionam regularmente, porque hoje é sábado. Parabéns, Tatuí!

Feliz aniversário-Tatuí Ternura


Vitrine de inocência das meninas de antigamente
Fotógrafo Caçador-Photomelomania


Feliz aniversário Tatuí Ternura

Cristina Siqueira

A vida que te dou na verdade é o meu direito a irrealidade,o alcance da memória que me toma o coração onde guardo tangíveis e agradáveis lembranças,um tesouro.

No paraíso sensorial da infância onde busco brigadeiros, pipocas, vestidos de domingo, brincadeira de navio e circo na farmácia de dona Adelina Avalone.Nas deliciosas tardes de visita em companhia de minha mãe à Dona Leontina Martelleto Hessel guardo um acervo de afeto.Almofadas de crochê, o tempero da comida caipira, o pequeno violino do Mateus como um quadro na parede da sala.A cadeira de balanço o piso de ladrilho hidráulico,tia Leontina me fazia as vontades,ovo estralado de geminha mole ,feijão com arroz com folha de louro,torresminho pururuca e doce de laranja feito no tacho.

As manhãs de domingo depois da missa das 10,a alegria no jardim da Matriz e depois a matinê dos bailinhos no Clube Recreativo.A estréia do vestido novo.Filmes e seriados,Zorro,Mulher Tigre,Os três patetas,o Gordo e o Magro.As novidades na casa de Elias Sallum onde brincava com Eliana e Eliazinho.As festas juninas,buscapé,fogos de artifício,pipoca,amendoim ,bolo de fubá.

A primeira televisão em preto e branco, os disquinhos de história em compactos coloridos.A raiva da carruagem ter virado abóbora na história da Cinderela.Almoço e jantar no Hotel Del Fiol onde a cidade pensante acontecia.Vovó Cesira Del Fiol,minha madrinha de crisma ,dela herdei o quadro iluminado de Santa Terezinha do menino Jesus.A cozinha de tia Yolanda piscava ,os bifes na chapa do “fogãozão” a lenha que Rita e Benedita preparavam para mim.O Vadô e o Marinho serviam o restaurante e faziam mágica entre o serviço da sopa ,saladas e sobremesas.Balas tofe no balcão da entrada e a geladeira que hoje é relíquia do Sítio Santa Rosa.A mesinha de xadrez onde meu pai jogava com Dr Aniz Boneder,Dr Almiro Minhoto,Sêo Salustiano,Sêo Acacio Manna,Tio Oswaldo Del Fiol.A alegria da Noca que conhecia pessoas importantes,a elegância de Modesta e Nádia Sallum.Sêo Bimbo e o Professor Sílvio Azevedo,Sêo Chiquinho Del Fiol.Armando Petinelli e Maria Tricta,Pedro e Lúcia Gagliardo,Professor Paulo Ribeiro e professora Lieneti,Dr Simeão Sobral e Professora Rosa.A fazenda de Toto Meirelles,o Rotary Club,dr Faria e Dona Zainha,falo de pessoas distintas que honram a história desta cidade. O Vicentinho do PROGRESSO de TATUÍ, Hélio Reali e Milton Stape dono dos três cinemas São Martinho, Santa Helena e São José.Balas de café e de coco,sessão das seis do domingo.

Aí neste lugar escondido e que não é só meu, tenho certeza, habito o imaginário passado, fugaz.

Os casais de namorados sentados nos bancos frios da Praça da Matriz,as mãos entrelaçadas.O coreto de mármore cor de rosa.As festas de santo,quermesses,gincanas,procissões,desfiles.

A banda furiosa, o foguetório quando a égua vermelha ganhava a honra do XI de Agosto nos campeonatos de futebol.Bares e Cafés e mais a Sorveteria da Leda, a Farmácia do Sêo Juquinha.

Tatuí, uma cidade festeira,sempre foi assim e à frente de tudo o animado e diligente Nilzon Vanni que fazia a cidade acontecer.As fotos na vitrine do Menezes e as fotos do Paulo Dragão ,depois as fotos do Módena.

Os doces da Eugênia Caresia,os bolos de festa da Tomires do Sêo Bodinho.Balas de alfenis da Cida do Zézito.Fios de ovos e doces ABC.

As modistas, costureiras com mãos de fadas, as irmãs Benetti, Heleninha Foltran, Dona Edi,os bordados de Dona Lígia Del Fiol , as roupinhas de bebê de Dona Tereza Vanni,os tecidos e enxovais da Flor Geni.As primeiras prestações de roupa pronta na Celina.Os pregões do Jonas na Casa dos Presentes.A loja do Sêo Pretinho onde comprei o primeiro presente do dia das mães com as moedas do cofrinho.A Tatuí Elegante onde comprei uma malha de tricô em decote V, com um escudo bordado com o dinheiro da mesada.

Rua Prudente de Morais, morei em frente à Telefônica e a papelaria de Dona Irma Minghini Vieira onde abastecia minha coleção de papéis de seda coloridos.No quarteirão de baixo num casarão enorme moravam Sêo Roque Negrão e Dona Prima. Sêo Roque era dentista, um homem extremamente bom, uma doçura de pessoa, excelente profissional. Dentinhos de leite iam para o telhado esperando o coelhinho os levar e os molares eram extraídos com boticão .O zumbido do motor era um triller de terror.Nesta casa anos depois residiram Erasmo Peixoto

e Maria Negrão,ali criaram os filhos José Erasmo,José Marcelo,José Guilherme e Cássia..Nos tornamos amigas, eu adolescente e Maria uma mulher prendada, de bom gosto,conhecia tudo da arte de receber,suas receitas eram testadas e ela sabia todas as novidades e lançamentos que aconteciam em São Paulo.Até um tempinho atrás toda vez que nos encontrávamos ela puxava pela lembrança das festas de aniversário,noivado,casamento e realçava as delícias que minha avó Lúcia preparava na cozinha.

Nessa rua que por encanto era minha morei pela segunda vez num casarão enorme em anexo ao Armazém da esquina a“Casa Barino”,um comércio de Secos e Molhados que pertencia a minha família.Vizinha de frente de Edgar Vieira e Deise pais de João Augusto,Márcio e Mariza e do Professor Acácio Vieira de Camargo e Dona Sílvia pais do Acassil e da Lindinha.No meio do quarteirão Gilton e Leila criavam os filhos Gilton,Cassiano,Emílio,e Nina.A Tipografia Unidos ,o Açougue do Mário Pedroso,o Tatuí Clube.

E os carnavais com Lança Perfume Rodouro,confetis e serpentinas,carros alegóricos,Hélio Portela,Zé Galvão,Maurício Medeiros.Bisnagas de sangue do diabo,clubes animados Tatuiense e Recreativo,Tatuí Clube,Sociedade Italiana,Princesa Isabel.As ruas movimentadas,Cordão dos Bichos,fantasias,e mulheres bonitas faziam a fama de um dos melhores carnavais do interior do Estado de São Paulo.Os salões de cabeleireiras da Esmeralda,da Rosinha,Da Marlene.Depois da dona Nair ,da Cacilda todos com agendas lotadas.

Tempo que a insegurança não me afligia, na verdade existia o inexistente homem do saco que pegava criancinhas e o olhar tranqüilizador de minha avó que dizia estou aqui.

Tombos de bicicleta e joelhos ralados as amigas Angela Gagliardo,Stela Barros ,Aninha Sartorato, Eliana Stape,Cecília Bassoi,Magali Jacó Hessel,Amália Poles.Ruas de terra batida ,depois lajotas antes do asfalto.Iluminação precária em postes pretos super gelados no inverno. Blackout constante da Light. Carroças, charretes, cavalos e um volume pequeno de carros.

A minha Calói feminina que depois troquei por uma rádio vitrola Zilomag onde ouvia óperas sentada no colo de meu avô Cateno Di Si.Ele chorava com saudade da Itália.Eu aprendia trechos das árias e histórias da sua terra distante.

Tatuí, em suas ruas centrais nenhum vazio é possível, a vida de sua gente que me povoa a lembrança é uma construção ousada e engenhosa, estou há horas remexendo o passado,

encontrando ora aqui, ora ali,fragmentos de cenas animadas em gerações sobrepostas.

Espectadora do seu crescimento, de aniversário em aniversário, entre as aparências e a realidade quanta história se entrelaça. O tecido humano de que é feita a cidade. É desta Tatuí que falo esta cidade feita no espírito de grandes homens e mulheres que para o bem de nosso futuro merecem ser sempre lembrados. Minha pequena cidadela familiar onde vivo, sobrevivo e onde se desenrolam as batalhas mínimas em que as idéias se colocam em palavras que insistem nesta declaração de amor.

Aqui, nesta Tatuí intocada e minha sonho com uma cidade escrita como intentei um dia com

o Projeto Livro de Rua vivo na memória do povo,vivo nos cartões postais que voam pelo mundo.Minha fantasia de poeta é a vida que te dou terra amada, é o que me leva a fazer brilhar nas páginas deste Jornal O Progresso de Tatuí semana após semana o perfil de sua gente para que todos lhe reconheçam o brilho.

E é com este brilho, neste Prisma que assino com as velas da esperança que lhe desejo Feliz Aniversário Tatuí Ternura.

Queridos leitores, esta crônica de aniversário será postada no Blog

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