Tatuí Cidade Ternura

-Que cidade é esta que chamamos carinhosamente de ternura? A ressonância real da cidade de Tatuí através da viva voz de seu povo.Um espaço de influências e formação,um centro de referências e valores.Um arquivo disponível à pesquisa e estudo

sábado, 2 de abril de 2011

Adoráveis Senhorinhas

Dedico esta página a :

-Maria Negrão Peixoto. /

Dona Conceição Seba /

Professora Cleide Orsi /

Dona Nádia Nabhan Sallum

Puxo a cortina,espio através da vidraça que reflete inocência,amor,nostalgia.Um ramo de melindre adornando o bolo de festa ,simples mas feito em casa pelas minhas mãos.Bolo macio e leve assado em forma redonda,untada com manteiga.

O assoalho de tábuas largas e corridas encerado com cera Colmeina lustrado com escovão,a escada de madeira que conduzia aos quartos.Pé direito alto , a mesa posta sobre a toalha da Ilha da Madeira,louça inglesa de porcelana trifoliada,os frisos dourados.

Havia amor nos gestos, nos olhares correspondidos, nos rostos que se sondavam buscando sentimentos. Havia pai, mãe, avós e raios de luar que cruzavam o assoalho, as paredes, o sofá vermelho.

Apressados os anos se passaram. Meu tesouro sepulto. A infância; a adolescência.

Bato com saudade no coração da casa. Pálida é a paisagem ,opaca e desbotada pelo passar do tempo.

Para sempre e sempre escuto o badalar do sino da Igreja da Matriz que me trazia um sentimento de importância .Todas as noites subia pela rua Prudente um homem e seu cavalo riscando o paralelepípedo .Bem cedinho,ainda noite,passavam as moças da fábrica de tecelagem,os cabelos brancos de algodão em fiapos.Um caminhão descarregava mercadorias no Armazém do Elias Sallum.O guarda noturno apitava .

Minha mãe ,com seus olhos doces e brilhantes ,me cobria, abençoava e dizia:dorme com os anjos.Os aposentos escuros ,os sonhos claros .O afeto é o que aprendi a ver no olhar das pessoas.

Nas tardes ,pela janela eu olhava a vida e ia além daquela rua, além dos filmes que assistia na sessão das seis de domingo no Cine São Martinho.E me sentia Gigi,ouvia Moon River e jurava ser Audrey Hepburn com seu nome escrito em letra minúscula nas caixas de presente do filme Bonequinha de Luxo.Balas de café e coco .A bilheteira maquiada,o batom carmim,a pele empoada.Os vestidos de organdi com laço atrás esquecidos no guarda roupa.Vestia então blusa de banlon,sainha de tergal e sapatilhas Jezebel.Sutiã para menina-moça meia taça da Mourisco.Calcinhas de algodão.

O porão, meu porãozinho com suas paredes caiadas e o chão de cimento cru com vermelhão.

O quadro negro, giz branco, livros, cadernos; a mesa rústica forrada com papel mata borrão verde.

O espelho na penteadeira de moldura cor de ébano, o espelho para me ver de corpo inteiro; a luz mortiça do abajur de seda cor de rosa. O botão de pérola, o alfinete de brilhante. Leque, porta-jóias, frascos de perfume e sobre a cômoda os santos, todos os santos que nos conduziam em fé. Os casacos se repetiam pelo inverno agudo que gelava até os ossos. A suéter de caxemira azul.As paredes choravam umidade.

Frutas vermelhas na cesta, a penca de bananas maçã, vovó me ensinava a escolher os ovos pelo tamanho, pés de chicória, abobora de doce, os queijos, azeite extra virgem folhas de louro, vinho do Porto. O mercado, a carroça de leite à porta. Palmas, sinetas, pregão de rua. Casais que desciam a rua lado a lado.Pessoas simples descendo para o mercado.O armazém de meu pai na esquina ,o quintal enorme ,em que eu sem saber descobria a possível brincadeira de ser feliz sozinha.

Tudo significava os nomes das lojas, das ruas e praças, as casas e seus donos .As crianças obedientes de olhar atento não se atrasavam para o almoço e jantar. Os sapatos eram limpos no capacho à entrada das casas.

Domingo após domingo o guaraná caçulinha para acompanhar a macarronada feita com molho de tomates frescos uma pitada de açúcar e horas de cozimento.A voz de vovó que dizia:-venha almoçar que esfria,lave as mãos antes.A fritada de palmito natural com salsinha,a maionese feita em casa,o frango de sítio com molho curto de ervilhas frescas.

As palavras fiam este passado composto de fragmentos que referenciam meu universo particular. São gestos, palavras, olhar de todos que me fizeram existir assim como sou.

As amigas de mamãe, os sisudos senhores que jogavam xadrez com meu pai, as vizinhas, as vendedoras das lojas, minhas amadas professoras. E me lembro das vozes, do jeito amável com que estas pessoas se dedicavam umas as outras.As imagens são um borrão sépia que se estende pela rua Prudente e adentra as casas e corações que permanecem vivos e pulsam .Vejo Maria e seus quatro filhos Erasmo,Marcelo,Guiga e Cássia dobrando a esquina, vejo Maria dirigindo a Kombi alemã ,fazendo compras na Elzi Vanni ,indo prosear lá em casa me ensinado a decorar o bolo de noivado, falando da moda de São Paulo das camisolinhas de flores com que Donata vestia Donatinha.Escuto a voz de Nádia chamando Eliana e Eliazinho, depois contando de suas viagens ,sempre elegante,falando filhos e netos e depois pranteando o neto jovem que não voltou do passeio à Bonito, e ela inconsolável.Com doçura me toco com o estilo manso e a segurança de Dona Cleide ensinando psicologia e prática no curso normal.E que alegria o sorriso perene de Dona Conceição mãe da Sheila e da Soraya .

É esta a minha bagagem.

Quando me ajoelho,quando mergulho neste infinito antigo que me sustenta a alma abraço pessoas amadas,àquelas que partiram e que pelo amor voltarei a ver em retalhos encolhidos, escondidos nas cavidades vermelhas do meu coração. E me importo com os detalhes desta época que nos fazia especiais-E o que ser senão os detalhes?-a agradável sutileza dos detalhes. A diferença se faz dos detalhes.

Mas escutem!Por favor, escutem!

Quero dizer que deixo as palavras caírem sobre a folha do caderno feito chuva fina para aguar as flores que permanecem calmas ,brilhantes sobre a terra fofa,as pétalas coriscando cores ar a dentro.Flores-mulheres que me ensinaram nuances,tons,aromas.Mulheres com fervor e dignidade de cumprir o rito da existência como mulheres que amaram,riram,choraram,educaram filhos,assumiram suas vidas com trabalho árduo e dedicação as suas famílias.

Lá fora os pingos grossos batem na vidraça de outras janelas maiores ,outra rua, outra casa ,outro tempo.

E assim seguem as histórias e os mergulhos nesta água do sentir de inúmeros reflexos.



sábado, 21 de agosto de 2010

“TATUÍ TEM FILHOS DE GRANDES MÉRITOS” Desfile de Xl de agosto-Escola Fernando Guedes de Moraes






Foi com esta frase “TATUÍ TEM FILHOS DE GRANDES MÉRITOS” que a Escola Estadual Fernando Guedes de Moraes homenageou Tatuí por seu aniversário no desfile do Dia 11 de agosto.



_O que os motivou a escolher esta frase do Hino à Tatuí para compor no desfile cívico do 11 de agosto?

Coincidiu com o anseio de várias pessoas da escola em trazer à lembrança a cultura consolidada do projeto Livro de Rua ,patrimônio subjetivo da cidade .Vivíssimo na memória do povo.Por onde passávamos ouvíamos comentários sobre as páginas nos muros,sobre os lugares ,sobre o legal deste trabalho que merece ser relançado.

A idéia surgiu em conformação com o trabalho que a professora Rosy desenvolveu com seus alunos no ano de 2008 quando foi feita uma releitura do trabalho da escritora Cristina Siqueira E antes disso já havíamos feito uma exposição em que os alunos relevaram autora e obra no tema :”Tatuí mostra a sua cara.”

Em 2009 estávamos com a produção montada para homenagear a escritora tatuiana e o desfile foi suspenso pelo surto da gripe Suína.Retomamos o projeto este ano e estamos felizes em levantar a consciência de que devemos valorizar o mérito dos filhos da terra.

Dentro deste tema destacamos com muito orgulho o aluno do 2ºano do Ensino Médio de nossa escola Lucas Amorim ,de 16 anos,medalhista das olimpíadas de matemática de âmbito estadual e nacional.Lucas participa das olimpíadas de matemática desde o ano de 2005 quando conseguiu menção honrosa.Em 2006 novamente a conquista de menção honrosa.Em 2007 a primeira medalha,de bronze.Em 2008 ,com muito estudo e perseverança conseguiu a disputadíssima medalha de ouro da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas,das mãos do Presidente Lula.Em 2009 conquistou uma medalha de bronze nessa mesma Olimpíada e uma medalha de prata na Olimpíada Paulista.


-Tocada pela sensibilidade com que é desenvolvido o ofício de professor na escola Fernando Guedes de Moraes fiz algumas perguntas ao Lucas.


-O que te motiva a estudar matemática?

No começo quando eu era menino meu pai me ensinava um pouco-mais contas simples,as somas.Na primeira série tive uma professora muito boa a professora Ângela da escola Maria Marcondes,mas foi na Escola Fernando Guedes que eu recebi incentivo para o estudo e estímulo para participar das Olimpíadas.Quero agradecer as orientações que recebi dos professores Rosana Donizete de Camargo e Ciro Antunes Cruz.

-E o futuro?

É a parte mais complicada.Penso em continuar com o estudo de matemática mas quero me direcionar também à atividades ligadas as artes.Gosto de desenhar e escrever.

-Voce gosta de estudar?

Gosto e minha mãe tem muito empenho em me acompanhar.


Aos professores e alunos da Escola Fernando Guedes de Moraes

Agradeço e muito a homenagem a mim endereçada. A marca do fazer bem feito com que vocês chegaram às ruas com o figurino estiloso criado artesanalmente pela professora Arlete de Oliveira ,sua filha Ana Beatriz e um grupo de alunos convidados a participar.

Realce à humanização que projetos culturais e pedagógicos oferecem aos jovens.A cultura tem um papel essencial.Não só como promotora da imagem,fortalecedora da identidade ,espaço de idéias e negociação,intercâmbio,mas de inclusão e formação de cidadania.

Fico feliz em ver o Livro de Rua nas ruas conduzido por jovens estudantes e professores idealistas que entendem profundamente que poesia é a alma ,a época,a dimensão constituída de um povo.A poesia nas ruas é acesso à leitura,integração,democratização,circulação.

E acredito que naturalmente assim,pelos muros,cumpre –se o papel de mudar a realidade social do indivíduo a partir de sua consciência e sensibilidade.

Feliz aniversário Tatuí por seus filhos de grandes méritos,e são muitos aqueles que trabalham

elevando o nome da cidade a patamares incomuns.Parabéns Lucas Amorim,parabéns a todo corpo docente da escola Fernando Guedes de Moraes e em especial a Diretora Maria Aparecida Ferreira Albuquerque e a professora de língua portuguesa Rosy Elena Balthazar Forcineti.







sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Projeto Livro de Rua-Cristina Siqueira-Vídeo Taly Moura-Antes e Depois

Em 2009 Cristina Siqueira pretende retomar o Projeto Livro de Rua e quer transformar a cidade,o país em um grande livro desencadernado e espalhado pelos espaços públicos. Motivada pela adesão de escolas,empresas, instituições culturais e amantes da literatura .Cristina Siqueira agradece a sua adesão a esta causa em favor da leitura do povo.
O Livro de Rua é uma obra inédita da escritora Cristina Siqueira, que reúne uma série de 20 cartões com poemas de sua autoria, escritos pelos muros e fachadas da cidade de Tatuí no ano de 1997.
Este projeto é um sinal evidente de que a alma e a força do povo é riqueza que governo algum consegue tirar, ele nos lembra uma delicadeza que se perdeu.
O ponto de partida para esse projeto é " com pouco pode se fazer muito" e preciso de pessoas investindo juntas, buscando o bem comum para que possamos concretizar esta empreitada poética. Patrocínios, comentários, adesões, caminhos, visibilidade na midia municipal, nacional e internacional são o apoio de que necessitamos.
Acesse também
www.tatuicidadeternura.blogspot.com
www.cristinasiqueira.blogspot.com
www.casadecor-cristinasiqueira.blogspot. com
www.prisma-cristinasiqueira.blogspot.com
www.euamotrancoso.blogspot.com
www.olivrosagradodasacerdotisa.blogspot. com
Categoria: Educação

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

PROJETO LIVRO DE RUA-POESIA DE CRISTINA SIQUEIRA-JORNALISTA GILBERTO DIMENSTEIN




Para o jornalista da Folha de São Paulo Gilberto Dimenstein,convidado a fazer a abertura do 3°Congresso de Educação de Tatuí,a cidade de Tatuí é referência em literatura/educação pelo valor do Projeto Livro de Rua aqui realizado “a única cidade do país e do mundo a ter poesia estampada em suas ruas. “ Dimenstein sabe desta minha ambição ,essa coisa quase impossível de querer transformar a cidade em um “grande livro desencadernado e espalhado pelos espaços públicos a céu aberto.”,palavras textuais da Prof.Dra da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto Lucília Maria Sousa Romão.

Na época em que o Livro de Rua aconteceu em Tatuí Dimenstein publicou em sua coluna da Folha de São Paulo: ”Existe um extraordinário projeto comunitário,usando a língua portuguesa,realizado em Tatuí,interior do Estado de São Paulo .Indo contra as pragas das pichações Cristina Siqueira com a parceria de um artista plástico,inundou os muros da cidade com poesia .Não apenas ninguém teve coragem de rabiscá-los como professores passeiam com os alunos para estimulá-los a ler ao ar livre.”

Movidas pelas palavras do jornalista num auditório com mais de 500 pessoas ligadas á educação inúmeras pessoas me procuraram para reportar o relevo dado ao Livro de Rua por conceituado e prestigiado visitante . Este fato ,para mim profundamente significativo pelo reconhecimento crítico além das fronteiras da cidade me tocou como um merecido acerto do destino que se multiplica a cada cumprimento amigo e se efetiva ao saber do empenho publicamente assumido pelo Prefeito Luís Gonzaga Vieira de Camargo de impulsionar a realização do projeto Livro de Rua em Tatuí.Desta claridade,destes muros convertidos em linguagem quero tornar público um email que recebi da Professora Rosi Elena Baltazar da Escola Estadual Professor Fernando Guedes de Moraes por ocasião do último aniversário da cidade.

Meu nome é Rosí Elena Balthazar, sou professora na E.E. Prof. º Fernando Guedes de Moraes e quando cheguei em Tatuí, em 2002 e me encontrei com uma de suas poesias (na Rodoviária) achei lindíssima, adorei a poesia e admirei a iniciativa , mas não sabia das outras e nem de você. Conheci a obra e a poetisa através dos muros. E a cada encontro com um de seus muros tinha a impressão que se lesse a poesia em voz alta, a qualquer momento, se abriria uma porta encantada, para mim o muro era o começo e não o fim... se tornaram parte de mim. Em 2007 fiz um projeto na escola com o “Livro de Rua”, os alunos do 1º Ensino Médio conheceram o livro, a escritora e as poesias... Uma a uma, das que restavam. Foi um sucesso! Os alunos pesquisaram, filmaram, fizeram reproduções... Enfim só faltou conhecer você pessoalmente. Agora para fechar com chave de ouro, a escola resolveu homenagear você como “filha ilustre de Tatuí”, no desfile de 11 de agosto.E se possível gostaríamos que você nos informasse respondendo as nossas perguntas sobre o Projeto Livro de Rua.

Oi Rosi,

Acabei de ler o seu email que muito me emocionou.O trabalho que foi realizado na Escola Fernando Guedes de Morais em 2007 foi maravilhoso.
O que mais me gratifica é sentir o resultado do Projeto Livro de Rua anos depois ,através de leitores sensíveis como você e seus alunos que tocados pela poesia se colocam no lugar do escritor e estão cobrando a continuidade deste projeto que tanto fez brilhar a escrita,a cultura literária e a cidade de Tatuí.
Este trabalho que esta sendo produzido em minha homenagem como "filha ilustre de Tatuí" no desfile de Xl de agosto em muito me dignifica e valoriza tudo que tenho entregue à cidade ao longo de mais de duas décadas.

  1. Como, quando e com que objetivo surgiu a idéia do Livro de Rua e das poesias nos muros.?

Em meados da década de 90 eu entendi de transformar a minha casa em um ponto de cultura.Sempre minha vida foi dedicada a educação, às artes e à literatura.Iniciei minha carreira de professora lecionando nas escolas rurais do vizinho município de Guarei.Morei durante 17 anos na cidade de Belo Horizonte desenvolvendo inúmeros trabalhos nas áreas cultural e pedagógica.Quando retornei à Tatuí,cidade que me viu crescer e onde residiam meus pais e meus filhos senti que a identidade da cidade era cultural a começar pelo escritor tatuiano Paulo Setúbal membro da Academia Brasileira de Letras e pelo plantel musical do Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí.Cultura não é algo que encontramos para comprar em qualquer esquina.Aos poucos fui criando movimentos culturais na minha casa,seguido depois por outros artistas que criaram seus próprios ateliês .Nessa ocasiâo com apoio do Luís Gonzaga Rocha Leite do Sítio do Carroção convidei o artista Cláudio Tozzi,reconhecido internacionalmente a montar uma exposição em minha casa.Quando êle aceitou o convite eu fiquei super feliz e ao mesmo tempo preocupada.-Como eu iria receber tão ilustre e famoso convidado em minha casa tão simples,sem segurança alguma e eu sem suporte financeiro para bancar os convites,divulgação e tudo o mais.Simplificando a história eu fechei a rua e fiz à mão com a minha letrinha de professora o primeiro poema no muro ao lado da minha casa gentilmente cedido pelo vizinho,com o objetivo de receber com poesia o convidado.Mesas e cadeiras na calçada,um pequeno coquetel e os amigos que vieram prestigiar o espaço trouxeram brilho ,calor e animação ao evento.O pintor famoso se sentiu em casa e eu em júbilo pelo sucesso da exposição.Deste primeiro poema de nome Liberdade me ocorreu criar um livro pelas ruas de Tatuí.Entusiamada por um amigo formatei o Projeto Livro de Rua e o encaminhei ao Ministério da Cultura.Após a aprovação do projeto pela Lei Rouanet quase que na sequência surgiu um patrocinador .


2-A Via Engenharia S/A sustentou financeiramente o projeto sob o incentivo do Ministério da Cultura, segundo o seu livro. Sendo assim, quem você colocaria como responsável pela preservação desse trabalho?

Todo e qualquer projeto cultural realizado em um cidade passa a ser patrimônio daquela cidade e deverá ser preservado pelas autoridades do município ou seja Prefeitura e Secretaria de Cultura.Veja você,na Praça do Museu Paulo Setúbal outro dia veio ao chão o busto de Getúlio Vargas, na seqüência e prontamente a prefeitura tomou providências para que a estátua voltasse ao seu pedestal.No caso do Livro de Rua apesar do trabalho junto às escolas ser largamente noticiado e reiteradas vezes eu ter buscado apoio para restaurá-lo e continuar me vi falando sózinha.Quando idealizei o projeto previ que a arte nos muros poderia ser efêmera por inúmeras razões daí entendi de revelá-la no Livro Por Trás dos Muros e em cartões postais.Hoje este projeto faz parte do Patrimônio subjetivo da cidade. Acredito que agora com o Prefeito Gonzaga que é tatuiano e envolvido com as causas edificantes para a cidade, e com o suporte das Secretarias de Cultura e Educação que hoje são realidade será possível retomar o projeto.Fica assim registrado o meu empenho e intenção de continuar com o Projeto Livro de Rua. Na verdade sempre que convidada eu levo esta história do Livro de Rua em palestras nas escolas,empresas.Enfim,12 anos se passaram e o Livro de Rua continua vivo na memória do povo e rendendo divisas culturais como referência pedagógica.

A trajetória deste projeto é bastante abrangente,o Livro de Rua em seus cartões postais é material de apoio didático na forma de software para a alfabetização de jovens, adultos

e idosos do Projeto Luz e Letras da rede pública estadual,da Secretaria de Estado da Educação do Paraná-através do seu departamento de Educação de jovens e adultos.

Poemas de minha autoria são apresentados em livros didáticos da Editora Scipione,distribuídos em escolas públicas do Brasil.

Se um dia você visitar a Universidade de Coimbra em Portugal lá você encontrará um exemplar autografado do Livro de Rua.Certa vez ,estando em Sedona nos Estados Unidos em um encontro promovido pela Unesco em favor da Paz eu presenteei um dos dirigentes com um livro e ele ao ler o poema “Meus nervos estão esticados/como cordas de violino/ de tanto andar na corda bamba/com a corda no pescoço”ficou visivelmente emocionado e queria entender como um poema de teor sofrido pôde ser ilustrado com uma bailarina leve e graciosa se equilibrando num fio infinito projetado no espaço,criação de Jaime Pinheiro.Pois é ,no Brasil é assim ,não é?

2-Quais eram suas expectativas com relação a esse trabalho?

Dar poesia ao povo é um princípio de ajuda coletiva,é fornecer educação nas ruas em todos os momentos.A aprendizagem se faz naturalmente em um processo espontâneo.Cultura de boa qualidade e acessível a todos é a minha oferta para uma efetiva mudança social e de sensibilização através da poesia.
Eu acredito que a poesia nas ruas humaniza as pessoas .Atua como um antídoto a este mundo que a cada vez mais esta se tornando frio,sem valores éticos,sem referências estéticas. Desperta o prazer da leitura.É um projeto não só lírico e belo mas naturalmente pedagógico.A minha expectativa maior era realmente transformar a cidade em um livro.Sem sombra de dúvidas é evidente que o Projeto Livro de Rua atrairia turismo para Tatuí principalmente por ter seu produto final em cartões postais.

3-O seu “Livro de Rua” é um diferencial da cidade, Tatuí antes e depois das poesias nos muros. Há possibilidade de repetir o projeto? Por quê?


Acredito que este projeto além de inédito é super atual e sinto a necessidade de reeditá-lo em um novo formato e usando das suas palavras
"E a cada encontro com um de seus muros tinha a impressão que se lesse a poesia em voz alta, a qualquer momento, se abriria uma porta encantada, para mim o muro era o começo e não o fim... se tornara parte de mim."
Quem sabe agora é chegado o momento.Outro dia tocada pelas bordadeiras na Praça da Matriz escrevi um poema que fala de amor a esta praça que na sua mudez de praça me viu brincar,crescer,namorar e voltar para lhe dedicar um poema.Para mim Tatuí é ternura,música e este reconhecimento que recebo das pessoas.

No ano de 2004 consegui com o apoio de empresários,comerciantes,profissionais liberais ,amigos , leitores e entrevistados de Prisma,página que assino no Jornal O

Progresso de Tatuí o suporte financeiro para editar o Livro Prisma.Graças a Deus Tatuí sempre me prestigia na produção dos meus trabalhos.

Acredito que pela união das forças políticas e empresariais da cidade conseguirei subsídios de patrocínio para a produção da reedição deste projeto já aprovado pela Lei Rouanet.Quero trazer para a realidade a força da inspiração poética.E nós podemos.

Agradeço a iniciativa da Professora Maria Aparecida,diretora da Escola Estadual

Fernando Guedes de Moraes em me prestar esta homenagem e através de você Rosi

agradeço e homenageio a todos os professores que amam a seus alunos e se dedicam em fazer da educação a base para um país mais evoluído.

Cristina,

Sentimos muito quando vimos desaparecer dos muros as suas poesias... Afinal é sempre bom chegar ou partir com poesias, ficamos menos solitários.

Obrigada

Rosi Baltazar